Isto pode ser razoavelmente indagado, como isto pode suceder ainda que ao melhor tipo de pessoas, que são, assim, tão estranhamente contrárias aos princípios do cristianismo?
Mas antes de dar uma resposta direta a isso, eu desejo que isto também seja inquirido: como isto pode ser um vício tão comum entre os cristãos? Isto é de fato ainda não tão comum assim entre as mulheres, pois é entre os homens. Entre os homens esse pecado é tão comum, que talvez haja mais de dois em cada três que são culpados do mesmo ao longo do curso de suas vidas, e com outros só de vez em quando como se fosse por acaso.
Agora, eu pergunto como isto sucede, que dois em cada três homens sejam culpados de tão grosseiro e profano pecado? Não é nem a ignorância, nem a fraqueza humana que conduzem a isto: isto é contra um mandamento expresso, e contra o mais claro ensino de nosso bendito Salvador. Confira e comente…
Porque a Maioria dos Cristãos Não Vive de Forma Devotada a DeusIsto comprova que a maior parte das pessoas vivem de modo contrário ao cristianismo.
Agora, a razão comum deste procedimento é esta: isso ocorre porque os homens não têm a intenção de agradar a Deus em todas as suas ações.
Deixe que um homem tenha tanta piedade quanto a intenção de agradar a Deus em todas as ações de sua vida, como sendo a mais feliz e melhor coisa no mundo, e então ele nunca mais apostatará, será impossível para ele apostatar, enquanto sentir essa intenção em seu interior, uma vez que é impossível para um homem que tem a intenção de agradar o seu príncipe, elevar-se e abusar-lhe na face.
Isto lhe parece, senão uma pequena e necessária parte da piedade, ter tal intenção sincera como esta; e que ele não tem motivos para olhar a si mesmo como um discípulo de Cristo, que não seja avançado em piedade. E, no entanto, é puramente por falta deste grau de piedade, que você vê essa mistura de pecado e insensatez mesmo nas vidas do melhor tipo de pessoas. É por falta dessa intenção, que você vê homens que professam a religião, mas vivem em apostasia e sensualidade; que você vê clérigos dados ao orgulho e à cobiça, e aos prazeres mundanos.
É por falta dessa intenção, que você vê as mulheres que professam devoção, ainda vivendo na insensatez da vaidade de vestir, desperdiçando seu tempo na ociosidade e em prazeres. Mas deixe uma mulher sentir seu coração cheio desta intenção, e ela vai achar que é tão impossível deixar de retocar a maquiagem, quanto amaldiçoar ou perjurar, ela não terá mais o desejo de brilhar nos bailes e na congregações, ou fazer uma figura entre aquelas que são mais finamente vestidas, do que ela terá vontade de dançar em cima de uma corda para agradar os espectadores: ela saberá, que esta atitude está tão longe da sabedoria e excelência do espírito cristão, quanto a outra.
Foi essa a intenção geral, que fez com que os cristãos primitivos fossem eminentes em piedade, que lhes fez viver em santo companheirismo, e todo o exército glorioso de mártires e confessores. E se você parar aqui, e se perguntar: por que você não é tão piedoso como os cristãos primitivos, o seu próprio coração vai lhe dizer que não é nem por ignorância, nem por incapacidade, mas simplesmente porque você nunca completamente pretendeu isto.
Você observa o culto de adoração dominical como eles faziam, e você é estrito nisto porque é sua inteira intenção ser igual a eles.
E quando você tem plenamente esta intenção de ser como eles em sua vida comum, quando você pretende agradar a Deus em todas as suas ações, você verá que é possível, ser rigorosamente exato no serviço da Igreja. E quando você tem essa intenção de agradar a Deus em todas as suas ações, como a coisa mais feliz e melhor do mundo, encontrará em você uma grande aversão a tudo o que é inútil e impertinente na vida comum, seja no trabalho ou no lazer, como você tem em relação a tudo o que é profano. Você terá muito temor de viver de uma maneira tola, tanto quanto teme agora negligenciar o culto público de adoração.
Agora, aquele que tem esta intenção sincera geral, pode ser contado como um cristão? E ainda se isto fosse achado entre os cristãos, isto iria mudar toda a face do mundo; a verdadeira piedade, e santidade exemplar, seriam tão comuns e visíveis, como a compra e venda, ou qualquer tipo de comércio na vida.
Deixe um clérigo ser assim, piedoso, e ele vai conversar como se ele tivesse sido criado por um apóstolo, ele não vai mais pensar e falar de preferências refinadas, quer de alimento, de vestes ou de meios de transporte. Ele não mais reclamará das carrancas do mundo, ou da falta de um patrono, ou de qualquer necessidade.
Deixe que ele apenas tenha a intenção permanente de agradar a Deus, em todas as suas ações, como a coisa mais feliz e melhor no mundo, e então ele conhecerá, que não há nada de nobre em um clérigo, senão um zelo ardente pela salvação das almas; e que não há nada pobre em sua profissão, senão a ociosidade e um espírito mundano.
Ainda, deixe que um comerciante, tenha senão esta intenção, e isto fará dele um santo em sua loja, o seu negócio a cada dia será um curso de ações sábias e razoáveis, feitas em santidade para Deus, por serem feitas em obediência à sua vontade e agrado. Ele vai comprar e vender, trabalhar e viajar, porque ao fazê-lo poderá fazer algum bem para si mesmo e aos outros.
Ele, portanto, não considerará, que as artes, ou os métodos, ou a aplicação irão torná-lo mais rico rapidamente e maior do que seus irmãos, ou removê-lo de uma loja para uma vida estável e prazerosa, mas ele considerará que as artes, os métodos e as aplicações podem tornar os negócios do mundo mais aceitáveis para Deus, e fazer da vida de comércio uma vida de santidade, devoção e piedade.
Esta será a motivação e o espírito de cada comerciante; ele não pode parar o mínimo nestes graus de piedade, sempre que for sua intenção agradar a Deus em todas as suas ações, como a melhor e coisa mais feliz do mundo.
E, por outro lado, quem não é deste espírito e disposição em seu comércio e profissão, e não conduzi-lo até onde seja possível à submissão a uma vida sábia, santa, e celestial, é certo que ele não tem essa intenção; e ainda sem ela, quem pode se mostrar que é um seguidor de Jesus Cristo?
Ainda, deixe o cavalheiro rico por nascimento ter essa intenção de viver somente para agradar a Deus, e você verá como isto o levará a fugir de cada aparência do mal, por causa da piedade e santidade. Ele não pode viver de modo vão, em prazeres e fantasias, porque ele sabe que nada pode agradar a Deus, senão um sábio e regular curso da vida. Ele não pode viver na ociosidade e indulgência, em esportes e jogos, em prazeres e intemperança, em vãs expensas de uma vida elevada, porque estas coisas não podem ser transformadas em meios de piedade e santidade, nem podem se tornar partes de uma vida sábia e religiosa.
Ele não pergunta, se é perdoável acumular, para se adornar com diamantes, e adquirir bens supérfluos, enquanto a viúva e o órfão, os doentes e os prisioneiros, necessitam ser aliviados, senão que ele pergunta, se Deus tem exigido essas coisas em nossas mãos, se seremos chamados para prestar contas no último dia por causa da negligência deles, porque não é a sua intenção viver de tal forma.
Ele não vai, portanto, olhar para a vida dos cristãos, para aprender como ele deve gastar suas posses, mas ele vai olhar para as Escrituras, e fazer de cada doutrina, preceito ou instruções, que se relacionam aos homens ricos, uma lei para si mesmo no uso de sua propriedade.
Este princípio o transportará infalivelmente para o topo do coro celestial, e lhe tornará incapaz de se afastar deste procedimento.
Eu escolhi explicar este assunto, apelando para esta intenção, porque torna o caso muito claro, e porque todo mundo que for razoável, pode vê-lo numa luz mais clara, e senti-lo de maneira mais forte, só de olhar para o seu próprio coração. Porque é muito fácil para todas as pessoas saberem, se elas têm a intenção de agradar a Deus em todas as suas ações, como qualquer servo pode saber, se é esta a sua intenção para com o seu mestre. Todo mundo também pode facilmente dizer como ele aplica o seu dinheiro: se ele considera como agradar a Deus nisto.
Aqui, pois, devemos julgar a nós mesmos sinceramente; não vamos nos contentar com as fraquezas comuns da nossa vida, a vaidade de nossas despesas, a insensatez de nossos entretenimentos, o orgulho de nossos hábitos, a ociosidade de nossas vidas, e o desperdício de nosso tempo, imaginando que estas são as imperfeições que nos levam a cair em fraqueza inevitável e fragilidade da nossa natureza; mas teremos a certeza, que esses distúrbios da nossa vida comum são devido a isso, que não temos tanto cristianismo, como a intenção de agradar a Deus em todas as ações de nossa vida, como a melhor e mais feliz coisa no mundo.
E se alguém perguntasse a si mesmo, como é possível que ele despreze alguns graus de sobriedade, quaisquer práticas de humildade que ele necessita, quaisquer métodos de caridade que ele não segue, as regras de uso do tempo que ele não redime, o seu próprio coração lhe dirá que é porque ele nunca tencionou ser assim tão exato nesses deveres.
Esta doutrina não supõe, que não temos necessidade da graça divina, ou que está em nosso próprio poder nos fazer perfeitos. Ela somente supõe, que, pela falta de uma sincera intenção de agradar a Deus em todas as nossas ações, nós caímos em tais irregularidades da vida, como pelos uso dos meios ordinários da graça, nós teremos o poder evitá-las.
Isto somente nos ensina que a razão pela qual você não vê nenhuma mortificação, ou auto-negação, ou nenhuma caridade eminente, nem humildade profunda, nenhuma afeição celestial, nenhum verdadeiro desprezo do mundo, nenhuma mansidão cristã, nenhum zelo sincero, nem piedade eminente nas vidas comuns dos cristãos, isto é porque eles não tencionam ser exatos e exemplares nessas virtudes.
Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do segundo capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo – Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida devotada, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.