“A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”.Ec. 7:3.
Nós vivemos na sociedade da fuga. Foge-se de tudo e, não raro, de todos. As pessoas fogem da realidade, vivem entorpecidas por psicotrópicos, não suportam o mundo como ele se apresenta. Em recente reportagem da Folha de São Paulo, constatou-se que o ansiolítico Rivotril vende mais no Brasil do que Paracetamol e Hipoglós.
Pessoas em fuga… Elas fogem de situações difíceis, inventam uma “mentirinha branca”, aquela que não trás prejuízos… Foge-se do gerente do banco, pois a conta está estourada, foge-se do síndico do prédio, pois o condomínio está atrasado, foge-se do cliente, pois a entrega está fora do prazo acordado, foge-se dos filhos, pois eles demandam tempo, e tempo é algo que nós não temos…
Há os que fogem do confronto, são eternas crianças, tem medo da palavra mais firme, do olho-no-olho, da verdade nua e crua. Evitam a todo custo uma conversa sincera, por isso, criam desculpas esfarrapadas, marcam e não comparecem, prometem e não cumprem, têm medo do enfrentamento porque sabem que agiram erradamente, preferem o jogo de esconde-esconde, arrastam a situação por anos, se possível for. Já afirmava Charles Ferdinand Ramuz “Não basta fugir, é necessário fugir-se para o lado mais conveniente.”
Há os que fogem de si mesmos… Tentam esconder o ser do próprio ser, enterram seus sentimentos nos escaninhos da alma, aprisionam suas consciências em masmorras de dor e solidão. Essa é, talvez, a pior das fugas! Friedrich Hebbel afirmou: “A vida da maioria das criaturas humanas é uma fuga para fora de si próprias.”. Que agonia é existir apenas para fora, no simulacro, no disfarce, no embuste, é a existência performática, é a vida caricaturada, ou como disse Kierkegaard, “o grande baile de máscaras”.
Tenho visto algo alarmante: pessoas fugindo de qualquer tipo de situação incômoda ou de desprazer. É a existência idealizada sobre a égide do hedonismo epicureu, é a busca pelo prazer, pela alegria e felicidade, tudo o mais deve ser evitado. Hospitais, funerais, doentes terminais, estações outonais, as pessoas não querem nada que as remeta as dinâmicas pertencentes à existência: a dor, a perda, o sofrimento, a solidão, a angústia, o medo. E haja Rivotril!
Quero chamá-lo a realidade da vida! O sábio do Eclesiastes afirma que é melhor o enfrentamento com a tristeza do que a fuga dela. É a tristeza, e não o riso, que produz um ser mais “robusto”, uma espiritualidade sustentável, uma fé conseqüente. É girando o moinho da dor que as pessoas se transformam em gente, aprendem a solidarizar-se, a perceber o outro, tornam-se generosas, humildes, contritas e mansas. Somos todos seres singulares, mas bem poetizou o Frejat na sua canção “todo mundo é parecido quando sente dor”.
Não fuja da tristeza, ela pode lhe ser de grande valia na vida! É por isso que o apóstolo Paulo dizia que “regozijava-se nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições e angústias”, pois sabia que estes matizes da vida eram capazes de transformar suas fragilidades em fortalezas.
Não tenho dúvidas de que Deus se utilizará mais da tristeza do que da alegria para forjar em nós um ser melhor, pois este é o convite para os que desejam caminhar no caminho: “tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. Hb. 12:2.
Que me venha, então, a tristeza, pois eu sei, conforme o salmista, que os que “semeiam com lágrimas, com alegria ceifarão”. Quem na vida sai andando e chorando enquanto semeia, quem entendeu que lágrimas são sementes que germinam a felicidade, e que a terra regada com o sofrimento é capaz de produzir frutos de justiça, jamais deixará que qualquer tipo de dor passe em sua vida sem que ela produza paz e bem para o ser.